O Blog do Art'Imagem

Por Cecília Couceiro 06 jul., 2023
Olá a tod@s, gente boa, generosa, criativa e criadora de magia e arte, potenciadora de possibilidades e oportunidades para atores, grupos de teatro e públicos diversos e diferenciados, fazedores d'Arte Plena Integral, aberta a todos, disponível a ser livremente desfrutada e explorada por pequenos e graúdos!... Lançadores de sementes!... Parabéns a todo o grupo de trabalho e, bem hajam pela diversidade programática, qualidade e dinâmica impressa nesta semana em festa do Fazer a Festa, que augura o garante da continuidade e atualização da qualidade teatral, sustentada num grupo de gente dedicada, empenhada e trabalhadora, que sabe partilhar, criar parcerias e dinâmicas intergrupos deveras interessantes, a bem da criação e inovação teatral, mas também no fomento e criação de novos grupos, artistas e projetos, contribuindo para a sustentabilidade da paixão de que se alimentam os sonhos, tornando realidade o "sonhar fazer", "fazendo acontecer" a " vida que se ensaia em palco" para tanta gente!... Por último, e não menos importante, gostaria de destacar o Fazer a Festa como um "lugar de encontro" entre aqueles que gostam do teatro e o fazem acontecer com paixão, suor, empenho e dedicação, com custos pessoais e familiares e aqueles que também se questionam e ao próprio ato teatral, nas suas diversas formas e sobre ele refletem e teorizam, bem como proporciona a todos aqueles que o descobrem verdadeiros momentos de magia poética, que só a Arte na sua máxima expressão possibilita atingir!... O Art'Imagem detém em si, promove e expressa com arte a arte de Fazer a Festa acontecer há 42 anos mas, também em diversos momentos e projetos multiculturais internacionais e locais, projetos que abrangem vários grupos etários locais nas "oficinas", no "teatro falado" e tantas outras iniciativas pontuais, que são expressão e garante de inovação e continuidade do Art'Imagem que, continuará a ter no Zé Leitão a sua referência e expressão máxima de criação, garantida ainda pela equipa de todos aqueles que o têm acompanhado, discutindo, divergindo, chegando a consensos negociados, partilhando sonhos, angústias, incertezas e esperanças num futuro próximo onde as oportunidades são uma possibilidade a agarrar... e o fazem acontecer como "Família"!... A tod@s, o meu Bem Hajam por tudo o que de bom trazem à minha vida, ampliando a alegria e significado do Palco da Festa da Vida!... Grata e sempre ao dispor, Cecília Couceiro (Espectadora) Na foto, os Tanxarina, companhia da Galiza homenageada na 42ª edição do Fazer a Festa - Festival internacional de Teatro para a Infância e Juventude
Por José Pedro Pereira 27 mar., 2021
“All the world's a stage”, ou “Todo o mundo é um palco”, escrevia William Shakespeare em “As You Like It”. Hoje é dia 27 de março de 2021, dia Mundial do Teatro, e a citação do bardo continua a acarretar novas camadas de significado. Hoje, vivemos numa era em que existem dois mundos paralelos, a tão aclamada binária do presencial/virtual. Hoje, os teatros estão fechados em Portugal. Hoje, estamos a passar por uma pandemia mundial. Hoje, não podemos circular entre concelhos. Hoje, podemos assistir às 11h00 uma peça de teatro em Lisboa, às 16h00 outra no Porto e às 21h30 uma outra no Algarve, tudo isto em pijama, trajes menores, ou completamente nus, as you like it. Hoje, gostava de cheirar o pó queimado pelos projetores, ouvir o murmurinho da plateia enquanto as luzes se apagam, interrompido pela voz de uma atriz, sentir o assento a receber o meu corpo e depois o vento da noite a esfriar os ânimos aquecidos pelas palavras proferidas em palco. Hoje não tenho isso, mas pelo menos tenho um cheirinho de esperança de voltar a ter em breve. Porque hoje, tal como ontem e amanhã, o teatro ganha novas formas de se reinventar. Hoje, todo o mundo é um palco e todo o palco entra no nosso mundo sem fronteiras. Viva o Teatro e Viva a Vida! José Pedro Pereira - Dramaturgo, Assistente de Produção do Teatro Art'Imagem e Colaborador do Fundo Teatral Art'Imagem/CC Maia Na fotografia, Daniela Pêgo na peça "Desumanização", 115ª Criação do Teatro Art'Imagem
Por José Pedro Pereira 25 mai., 2020
“Não tenho tempo”, uma das expressões mais famosas universalmente. Tecnicamente, é uma expressão que estará sempre correta, independentemente do contexto. A partir do momento em que dizemos tê-lo, já não é tempo que temos. O próprio termo “tempo” já é contra a sua natureza. No entanto, somos escravos dele, por mais absurdo que isso soe. A ideia abstrata de “tempo”, segundo a teoria do filósofo francês Henri Bergson (1859-1941) é indissociável da noção de movimento. Apesar de esta noção se situar mais centrada num plano físico do que metafísico, Bergson procura estabelecer um equilíbro entre ambos, sublinhando o modo como o movimento se interseta com os conceitos de mudança, evolução e fluidez. Bergson vê o movimento como a força vital da existência, tal como já Aristóteles o fizera, ao criar o conceito de “entelequia”. No entanto, a visão aristotélica é binária, consistindo a entelequia numa oposição à “stasis”, sendo que a primeira corresponde à realidade perfeita de algo enquanto a segunda a corrompe. Em “Introduction à la métaphysique”, contudo, Bergson demonstra uma atitude contrária, afirmando que a “stasis” é apenas um espaço efémero entre mobilidades. Para Bergson, o tempo é algo que não pode ser quantificado, visto que este pressupõe, na sua essência, uma não-duração. O tempo é o movimento perpétuo; a mudança e a evolução; a diferença; um fluxo indiferenciado e eterno que apenas pode ser apreendido por métodos que irão subverter a sua própria essência não-estanque. Bergson defende um mundo em perpétua transição, um mundo de devires infinitos onde o tempo deve ser visto como uma entidade não-divisível, nunca podendo ser tratado da mesma forma que o espaço. Vemos, pois, como o movimento e a mudança são cruciais para a noção bergsoniana de tempo. No entanto, quando aplicada aos seres naturais, a noção de tempo cria sempre mudança e movimento, mas nem sempre depende do movimento voluntário do sujeito, pois mesmo parados vivemos num “perpetuum mobile”. Sirvo-me agora da literatura, mais especificamente do multifacetado escritor irlandês Samuel Beckett (1906-1989), para exemplificar este conceito. A sua obra está recheada de exemplos que demonstram como a mudança e movimento não implicam deslocação, dado o leque de personagens que se encontram estáticos ao longo de toda a sua existência: Hamm, em “Endgame”, embora estático na sua cadeira de rodas, é movimentado por Clov e, apesar de não ter qualquer tipo de controlo motor sobre si próprio, é ele quem controla todas as outras personagens da peça; Murphy, em “Murphy”, senta-se numa cadeira de baloiço, completamente atado a ela, estando então simultaneamente estático e em movimento; Winnie, em “Happy Days”, apesar de enterrada até à cintura durante todo o primeiro ato, e até ao pescoço durante o segundo, encontra-se num constante devaneio insano ao longo de toda a peça e consegue movimentar-se através do discurso, ainda que imobilizada, estática; do mesmo modo, Malone, em “Malone Dies”, estático numa cama, à espera de morrer, consegue todavia movimentar-se através das suas ficções, permanece em movimento através da linguagem, continua vivo. Da filosofia à escrita, acabamos com o tão atual Covid-19, este monstro que nos assombra atualmente e faz com que esta noção de movimento estático seja muito relevante. Vejámos: num período de confinamento em que a grande parte da população se manteve em suas casas, o mundo continuou a movimentar-se. Graças às múltiplas plataformas virtuais, conseguimos navegar sem sair de casa. Quase tudo está disponível à distância de um “click”. No entanto, como em tudo, existem sempre os dois lados da moeda. Para vários profissionais, a utopia virtual rapidamente se transformou em distopia com o conceito de “Teletrabalho”. Neste momento, há sempre tempo para estar disponível, há sempre a possibilidade de responder a um email de madrugada, há uma corrida à disponibilidade total e imediata, uma isenção de horários não comparticipada. O professor João André Costa relata-nos como experienciou este problema na sua crónica para o jornal Público “Teletrabalho ou a disponibilidade contínua”, dizendo que realmente não tem tempo como tinha quando trabalhava presencialmente: “Nessa altura ainda tinha as sextas e os sábados à noite, hoje nem isso”. José Pedro Pereira - Dramaturgo, Assistente de produção do Teatro Art'Imagem e colaborador do Fundo Teatral Art'Imagem/CC Maia
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