O Vagabundo que Sonha Palhaço

1ª Criação I Estreia: 24 de Outubro de 1981 no Auditório do Orfeão de Leiria, inserido no 3ª Encontro Nacional de Teatro para a Infância organizado pelo CPTPIJ

Para a peça…

O sonho pode ser a realidade do homem?

Acreditamos que sim e, porque acreditamos dizemos como o poeta: “Pelo sonho é que vamos!”

Do binómio memória/sonho a alavanca para o presente, o (re)adquirir da nossa própria identidade, o (re)conhecimento do nosso EU, na destruição/construção de antigos e novos valores – forma renovada de ser e estar!

Sonhar é no presente já o futuro, é um exercício de vida no estar atento à hora que passa, que vivemos, no seu total aproveitamento, na disponibilidade criada para a receber no momento que se respira, como se fosse o último…

Acompanha-nos a memória-migalhas montoadas nos caminhos calcorreados da nossa própria “estória”, do que “vimos, ouvimos e lemos, sem poder ignorar”, do que nos disseram como “verdades” e do que nós fizeram como “mentira” – aceitando, repudiando, sorrindo, chorando, odiando, amando – VIVENDO!

Do homem e mulher que somos a insatisfação constante do ser e estar aqui – por isso o permanente desejo de mudança, assim o sonho da marginalidade, do diferente, de outra vida – aqui mesmo e agora, nesta vida, sem ambições do além, do amanhã, esse desconhecido!

Contras as “margens que reprimem o nosso rio de desejo” a necessidade imperiosa e urgente da provação, da revolta, de sermos “esquisitos”, que o que fomos e somos o foi e é à medida e para os outros que não para nós mesmo…

Talvez que ser vagabundo (- porque foges constantemente dos polícias, Charlot?) seja invadir de tudo o nosso quotidiano cheio de nada, provocar a nossa comodidade, derrubar muralhas de rotina, encher de ar puro os pulmões contaminados do condicionado, desengarrafar-mo-nos das horas-de-ponta, destruir os ponteiros increstados nas meninas-dos-olhos, correr, saltar sem fatos nem gravatas…ser livre…sem portas!,,,sonhar…para além dos limites…!

Do palhaço (ah! Como te rias nos circos da nossa infância!) a dimensão mais gozada do nosso imaginário, contra os fados e destinos…da lógica inventada para mecanografar as nossas ilusões, televisionar os nossos sonhos…!

Torcer a realidade, tornando-a ridícula, tirar partido das situações, subjectivar o objectivo, dar “às coisas um sentido oculto, quando as coisas não têm qualquer sentido oculto”…

…Rir, mesmo quando o riso é exteriorização da própria dor…

…Rir, principalmente quando o riso é raiva, provocação, bofetada, nas faces sérias e sisudas de todos os senhores sérios e sisudos deste mundo…!

De vagabundo e palhaço talvez tenhamos todos um pouco…pena é que alguns (muitos…!) isso não se note mesmo nada…!

Guião e Encenação: Fernando Costa

Interpretação: Maria Cristina, Fernando Costa, José Leitão e Odete Correia

Cenografia: Albuquerque Mendes

Guarda-Roupa: Bira

Técnico: Conceição Maia

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