Se, como disse Shakespeare, Todo o Mundo é um Palco, todos nós então enchemos o quotidiano de representação, de gestos estudados, de convenções, de fingimentos, de signos, de teatro…

Se, durante tentos séculos, o teatro foi de todos e para todos e apresentado ao ar livre, nos locais de culto, nas praças e ruas das cidades ou nos largos e adros das aldeias, sem entradas pagas…

Se no Porto quase não existe teatro e quase não há público para os dramas e comédias dos trágico e cómicos que quase se não sabe deles…

Nada melhor que trazer o teatro à rua, de passeio, para ver montras e conversar com o público. Misturá-lo com os cidadãos-transeuntes, brincar com eles, confundi-los e, sem eles darem por isso, transformá-los em actores e figurantes, intervindo na acção da peça que se passa na rua em que eles passam.

Levar o teatro às ruas do Porto é também entrar na história e nas personagens nossas conhecidas que nessas ruas viveram, andaram…

E estas ruas têm prédios que as pessoas deixaram de olhar, pois os seus olhos teimam em só ver as montras…, e quando, por acaso, os olhos sobem ao céu, descobre-se uma varanda, uma sacada, águas-furtadas, uma estátua, um pormenor…

O pretexto para isto vai ser um casamento… e um suicídio… Num espectáculo de teatro para animar de outras animações uma rua comercial.

José Leitão